terça-feira, 27 de julho de 2010

Poesia anarquista 18

não vejo minhas poesias como guias
mas sim como uma grande reflexão autobiográfica
não escrevo para ser admirado, entendido,
tolido de expandir meus horizontes
criativos e apolíticos.
minha poesia tem vida,
e vontade própria
deixo que ela fuja na página,
com gosto de vingança,
por ter sido posta pra fora.
sinto que todas as minhas crias,
me odeiam, e queriam ser guardadas no interior
de meus pensamentos sombrios.
mas eu me regozijo em alegria
quando as vejo com rosto
chorando de agonia
recebendo o vento da vida
o sopro da poesia.

Poesia anarquista 17

Não gosto da ideia das super poesias,
daquelas bem trabalhadas,
talhadas como madeira,
polidas como vidro ou lataria de carro.
gosto muito menos de escrevê-las,
de desperdiçar meu tempo com elas.
as admiro, as devoro,
sinto muito prazer em tê-las por perto.
mas não é da minha natureza sã,
produzi-las, vivo em pé de guerra
com os amantes da poesia correta.
não existe metrica certa,
nem rima rica e bela,
nos pobres pedaços de papel
em que rabisco meus escritos.
gasto meu precioso tempo
dividindo ideias
em dezenas de pequenas vadias.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Santo sudário

Cubo mágico,
cigarro trágico,
paciência.
é preciso,
álcool
que me algoza
em trapos da poesia.
frangalhos intermináveis
de vestes nobres
do santo sudário
espalhados em livros inacabados.
estudo o gosto,
o rosto,
de meus companheiros.
da morte amena,
da vida terrena,
da viagem astral e plena.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Para Natan

é engraçado
como você sempre me vem com a resposta certa,
a pergunta correta.
com todos os ases na mesa,
as fichas no bolso,
o telefone no gancho.
você sempre sabe o final,
de tudo o que começa.
meticuloso, matemático,
sabe todos os ganchos,
os diretos de esquerda,
os socos a direita.

é engraçado, você sempre vence
seus jogos mentais
mesmo quando joga só.

Cacos no acaso

são casos,
socos no acaso.
sacode de cá,
joga pra lá.
cacos de vidro,
espelhos, jóias rara.
acasos concursados,
concluídos,
massacrados,
casos encerrados.
assassinatos encenados.
mente aberta e fria.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Quadra que mente

poesia que mente
sem nem pensar
pensa de repente
em apenas ver o mar

Poesia anarquista 16

não é assim que escrevo
mergulhando na página escura
sem pretenções de terminar.
já começo com meio e fim,
num gozo astral de palavras mortas
como mosquitos em páginas em branco.
sangue negro que escorre da minha caneta,
que rasbica formas e sentidos,
sem sentido, sem formas.
poesia pichada na parade da escola
anarquista servindo o exército
dos futuros intelectuais.
suicida nato.
poeta tato
um simples quadrado.

sábado, 17 de julho de 2010

Poesia anarquista 15

Meu copo anda displicente,
os cigarros não tem volta.
a morte companheira.
minha poesia jovem,
rebelde,
não prende-se em correntes,
nem guia cegos leitores
ao descobrimento das metáforas.
meu corpo é pessoal,
minhas pernas acompanham
o movimento de rotação.
os olhos observam as estrelas
contando histórias sobre os signos,
uma narração abstrata
sem melancolia aparente.
a abóbada celeste,
as nuvens carregadas,
figuram minha linguagem.
sou poeta, daqueles indigentes
criança que soltou a mão na multidão.
a tosse não cansa,
o fígado tem folêgo.
o gozo de pensamentos,
prazeres da cama.
lagos, rios, mares,
planíces e montanhas,
descampados cheios de palavras chave
que abrem os portões das ideias celestes.

Poesia anarquista 14

Poesia sem forma
sem cara, nem máscara.
não usa sapatos,
nem veste roupas.
não é abstrata,
muito menos concreta.
nem se sabe o soneto,
das lunetas modernistas.
poesia sem rima.
nem é romântica.
passa longe das métricas
certas.
não escuta-se cornetas,
nem harpas, nem nota alguma.
não existe homem de barro,
nem costelas de adão
fazem parte da trama, criação.
os carpinteiros demitiram-se
os floristas morreram.
sem mulheres, e filhos futuros.
esta poesia é única
muda todo dia, todo dia muda
a muda que planta
uma nova ideia no chão
não casa, nem caça.
não segue estradas pré-prontas.
espontânea cria
que rasteja no não
da poesia anarquista.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Meu amor pela terra

Meu amor pela terra,
Pleno planeta solar.
É caminhar pelas plantações,
Semear a areia branca batida,
Colher o amor dos frutos sagrados.
É recitar a oração das sete direções,
Saber que é ela nossa mãe,
Que nos sustentará,
E que não existe dinheiro que compre
Tamanha riqueza.

Gosto de vida, vida com gosto.
Amar a terra,
Saborear cada broto no chão,
Admirar cada obstáculo imposto,
Trespassar em incríveis en passants.

Cuidar dos rios, conversar com o povo em pé.
O povo de pedra me guia em paz.
Reconhecer as linhas de energia,
Que recolhem a beleza mundana,
E as espalha em vortex celestiais.

Meu amor pela terra,
É revelar os segredos da lua,
Absorver os cosmos universais,
Sentir o pulsar do coração de cristal.

Ver com claridade a vida rastejante,
Amadurecendo a sabedoria voadora,
Transformando em ação correta meu dia a dia,
Colhendo os frutos sagrados de amor,
Conversar com os antepassados espirituais,
E agradecê-los por tudo,
Levar meu amor mutuo a todas as criaturas,
Que habitam a esfera.

Eu amo a terra,
Incondicionalmente.
O vento no rosto,
A areia nos pés, o barro nas mãos,
As grandes vós e os sábios vôs.
Estabelecer amizade com as víboras,
Acariciar os grandes ofídios,
Recolher suas peçanhas.
Abraçar os troncos robustos,
E agradecer pelo ar que respiramos.

Cantar todo dia de manhã
Que o dia é lindo
Que é lindo o meu dia
Que os pássaros vão cantar
O sol vai brilhar
Flores brotarão e borboletas
Em transformação voarão.

Afagar os seios maternais,
Da grande mãe energética.
Alimentar a alma
Em grandes transes espirituais.
Dançar com os índios de harmonia.
Amar de verdade a terra,
Não é só dizer em alta voz.
É mais sentir internamente,
A luz que aquece os corações.

É saber que tudo é vida
Não existe desperdício
O que morre alimenta
E fortalece o próximo.

Eu amo a terra, a vida
O vento, os astros, o povo em pé,
O povo de pedra, os fluxos de água e energia,
O sol, os ensinamentos da lua.

E nestas palavras vou passar meu vão conhecimento
Pois todos sabem
Que existe muito mais entre nós do que realmente podemos explicar

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Poesiancia

Os dons da leitura
das entrelinhas poeticas
homens que dizem conhecer
o beijo amargo das três irmãs
de terem lido o livro do destino
página a página, sabem interpretar
sentem os dizeres dos espíritos
na flor da pele
essa rosa maçã
âncoras que sustentam o infinito
centro do universo
paralelo complexo
loucos que acham pedras triangulares
desenham na areia labirintos
que vestem a natureza em longos transes
transcendentais

Aqueles que dizem serem capazes
de ver o amanhã
o próximo segundo
o novo milénio
Maias proféticos

Estrelas em choque
sois engolindo luas
andrômeda e sua mão
nebulosa escondendo o outro lado do universo

terça-feira, 13 de julho de 2010

Cérebro a milanesa

Fritaram meu cérebro a milanesa
ovos mexidos na frigideira
explosões de sons e cores
o ponto brilhante
a vida agonizante
o chão que treme e engole o corpo alheio
É MARCO É ZERO
é terra que serra
é a mão no colo, os braços cruzados
o sonho vivido ilusão a caminho
alucinação um carinho
largado sugado decaido
eram 4 horas da manhã
agora são 22 horas
acordado fadado a cair em um sono inquieto
2 goles de cachaça
beijos ácidos, corroídos

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Saudades de Marizá

que saudade que espremeu o peito
veio sorrateira e marejou os olhos
eram socos dados com jeito
bem na boca do estômago das lembranças

eu via neste instante as imagens
do grande sertão Marizá
das flores que haviam lá
o Vô a Vó, que vontade de chorar

a saudade é também de caminhar
entre as palmas e sisais
de sentar junto ao fogo
do "witchi tai to"

a velha senhora com suas histórias
o labirinto e suas respostas
da terra sem sangue e muito suor
da areia branca onde repousa o povo amigo

lembranças memoráveis dos tempos de paz
das meditações e visões
imagem marcante do caminho sagrado
em rodas da cura eterna

Do grande sertão Marizá
tudo eu vou guardar
e nunca esquecer
da ida e da vinda

dos momentos de alegria
das rodas de cantoria
de toda aquela energia

domingo, 4 de julho de 2010

insónia incontrolável

num sono inexistente
tive um sonho volátil
onde encontrava abrigo

era a rima inteligente
do seu retrato portátil
e a minha imagem de mendigo

o tempo pasava contente
em seu vôo versátil
pouzava a cabeça no peito amigo

o sonho acabava convincente
no fluxo pulsátil
da mente do perigo

mas a insónia incontrolável
me derrubava sem forças
num chão de pedra batida

sem sequência provável
a historia da contraforça
onde vivia a bebida

vou buscando encantos
nestas metáforas loucas
de um poema acalentado

Sempre acaba em Poesia

eu começava a escutar a música
dos orgãos celestiais
e sentir a estranha física
dos quatro pontos cardeais
que me guiavam ao entendimento
dos espíritos da sabedoria
nada tirava meu consentimento
de que aquilo acabaria em poesia