quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Um não soneto

Antes que a voz espere o tempo mudo,
as palavras se formam harmoniosamente.
Antes que o poema surja num rompante,
o sentido foge dos algozes do mundo.

Não há tempo, nem ouvidos, para ouvir as preces.
nem o ritmo do rachar de um tronco.
Nem o medo do escuro, mortífero e duro,
parece ter tempo para ver o que acontece.

Deixe que os anjos falem por si,
e as ondas do mar carreguem para si,
todos os olhares, e todos os pesares.

Deixe que os torturadores orem por si,
e os machados afiados cortem por si,
todos os olhares que tens por mim.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

melodramazinho

Deixe que o vento lave as palavras gélidas,
E que a chuva passe, mas nada leve.
Não deixe o sol esquentar os dias copiosos,
Estranhos e desgostosos, que passam.
Não embarque na brigada naufragada,
Afogue-se na certeza do amanhã.
Não leia os livros de cabeceira,
Esqueça, todos os poemas um dia escritos.
Na verdade eles nunca foram escritos.
Corra para longe, para outros braços,
Pule no pescoço, mas nunca esqueça,
Todo cachorro rôi osso.

domingo, 8 de janeiro de 2012

malandro samurai

um samurai zen.
seu maior golpe
foi comum, pincel,
tinta, haiku
cai na palma de um tecido
um Kanji molhado
manchando a glória
de sangue escorrendo
é tanta faca perfurando
o coração de um homem nú

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Petulante pedante

Usas do uso das palavras
Hermeticamente rebuscadas
Para de luxo transar
Ergue feito taça
Seu texto dourado
Que mais parece uma traça
No lixo a gozar!

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Desestrutura

Desestruturação
_______E
______________S
___T_______R
_U

_____________________TU
_______R
AA

_________AÇÃO


(o blog n me permite postar na diagramação correta, então vou colocar _ no lugar de espaços)

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

anagraficamente cruz

Jesus alegria dos homens
Jesus ria, os homens
o crucificariam

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Digo

Digo mais
E digo mais ainda
Abro o peito e grito:
“Meu eu poético
É espelho de palavra bruta,
Polida, cosida, escondida
Versos em forma de gruta.
Guturalmente esbravejada.
Uso do eu para falar
do que não é meu
encontrando no escuro
letras em forma marchando"