segunda-feira, 17 de maio de 2010

Quimera

cavalgando o cavalo da vida
sem alma favorecida
uma espécie de cria
caida do abismo celestial
anjo de luz e beleza
demonio subindo pescoços
roendo os caroços
desta arvore caida
frutos podres
quimeras mortiferas
olho cego
ouvido surdo
e sempre mudo

A dor do pincel

ao pintor o seu pincel
ao ator a dor alheia
a tela de cores
o palco de seda

Burro de carga

ao sonhar com o acontecimento
ao relento de um aborrecimento
burro de carga
carregando a mulher amada
no estupro de um pensamento
no levar de um conhecimento
esquecendo das coisas simples da vida
do banho, do chão
da minha criação

O verbo

o verbo que penso
é a linha do meu pensamento
o passo que sigo
é onde quero chegar
não posso ser quem sou
sem olhar quem fui
não posso fitar o luar
sem lembrar dos meus antepassados
sem lembrar dos senhores de escravo
o verbo que penso
é a linha de onde quero chegar
e o passo que sigo
é onde eu quero pensar

A máquina

estou encantado com a beleza da máquina
escrevo como falo
e rio do que digo
poesias soltas no ar, socos na boca do estômago
silenciando meu gosto de amar
os sons que estão no ar
silabas proféticas
rimas magnéticas
tudo parte de um mecanismo
que move um todo
o todo do meu olhar
sádico e macio
dos dias de lá
que vão parar de passar
soltos rolando nas ondas do mar

Gaiola solida de tristeza

tristeza é sólida
como a parede que prende
as grades que sufocam
aos mãos que afastam
você de mim.
é tanto amor,
que sugado pelo aspirador de pó que se fez os meus pensamentos
encurralado, amedontrado
meus sentimentos expostos na mesa da sala
junto a todos que passam, olham, escarram
A tristeza solitária
de um amor solidário
não passa de uma gaiola trivial
de paredes brancas
que se empenha em me assustar

Garotinhomen

Aquele garotinho fragil
beijando escondido
vivendo sozinho
caindo no abismo do crescer
aquele menino briguento
que nada sabia de poesia
que nada lhe interessava
fora garotas
aquele homem sentado no sofa
vendo tevê, sem tempo pra ver o tempo passar
sem leitura, sem carinho
sem amor...
aquele garotinho fragil
teve sua inocencia arrancada
sua violencia explorada
sua babaquice ampliada.

Sentimento lento

Meu filho foi arrancado de mim
pelo parto prematuro
foice de vida, ceifando o cordão umbilical
aos prantos vi minha vida
apagando lentamente
a arquiterura maligna, dos deuses do mal
que levam em sopros de agonia
os bebes da poesia
em prantos matematicos de soluços problematicos
vomito em soluções de humor aquoso
tudo isto que é doloroso
me cai no peito esfomeado
de pescoço erguido
transformo minha nova cria
em uma bela menina

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Ao Cachorro morto

sou o cachorro morto
atropelado em plena avenida central
meu assassino passou, e nem ligou
os olhos vidrados não vêem
sangue seco, a língua no asfalto
o crânio exposto, o folego torto

não sinto teu cheiro
não lambo teu rosto
não viro seu sapato, mordo o pé da mesa
nunca mais marquei território

sou o farelo vivo,
de carne podre a voar
pelos ventos da tarde
carne, osso e tripa no ar

minha alma ladra e nunca mais morderá

terça-feira, 11 de maio de 2010

p. leminski

leminski:
ele provou que
poesia é vida
usando a matemática
do diabo e o gosto
amargo de suas escolhas
poeticas, marginais
valeu enquanto durou
e vale até hoje

segunda-feira, 10 de maio de 2010

sete de seis de oitenta e nove

"fechem as portas
apaguem as luzes
o poeta jaz num canto
todo em cânticos
silêncio semântico
kamikase do espanto
por um porém
um talvez
quase um acaso
do desencanto
mergulhou fundo
no instante
em que era raso"

Leminsky por Solda

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Haikais(5)

Busco
e Rebusco
do espelho encantado

me sinto roubado
meu saber, meu ser
não ser, não ter

Pilula colorida
fantasmas e ladrões
pés descalços no chão

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Haikais(4)

um trabalho
cheio de atrapalhos
poesia e cuba libre

A psicodelia
experimental não passa de
Superficial

É escrever difícil
quanto mais eu tento
mais me atento

terça-feira, 4 de maio de 2010

Haikais(3)

O dado que tenho
seis faces o destino
que azar

brancas e pretas
Sonatas ao luar
pianos sem olhar

Esta musica
que passa desapercebida
sentimento é tristeza

Já escrevo a uns dias
o punho magoado
chora consolado

Cartola na cabeça
cartola na barriga
cartola no ouvido

kamikaze
divino é o vento
triste o acontecimento

segunda-feira, 3 de maio de 2010

O débito da palavra (para Patrícia)

a muito lhe devo estas palavras
palavras de amor, de sinceridade
um poema seu, pra você, sobre você
um verso em forma de rosa
uma rosa em forma de prosa
um sorriso doce e calmo
cabelos rebeldes
e uma sinfonia de olhares
Troca de caricias, de amares
um poema seu, totalmente teu
uma rima especial
pensando nesta tal de agonia
escutando o velho Sérgio
"Faixa Seis", mas tu não es.
Serenidade te descreve,
sinceridade sinonimo
amor gostoso, de sentir.

MPB*

Hoje estou politizado
Brasileiro acalentado
Musicalmente falando
pobre, maldito, escanteado
Poesia marginal
Leminski chacal
uma geração inteira
de hippies e beatnik
um grupo de crianças malcheirosas
fedendo a poesia e limão
os braços sujos e feridos
os narizes sempre coçando
era tanta tinta esfumaçada
uma viagem astral
poetica e literal
"ah vai passar o samba popular"
"os labirintos negros"
"sem lenço e sem documento"
"eu tambem vou reclamar"
"o rei da brincadeira"

*malditos, pobres e bestas

Mais alguns Haikais(2)

Longevidade
ventania leva vida lerda
de frente da janela

o gosto amargo
na boca seca e quente
perdi o ventre

Existe em uma grande obra
um esforço muito grande
para transformar a ideia

Haikai aquilo
que lemos, entendemos,
jogamos fora.