sábado, 31 de janeiro de 2009

Filho de Deus

Por que ser chamado de filho de deus
Se sou filho da puta,
Desgraçado!
Tenho sangue em minhas mãos
Sangue em minha boca, palavras não ditas
E escritas em um diário esquecido
Tenho medo de não ser reconhecido
De ter sido esquecido pelos lares bárbaros dessa terra
Ter sido espancado por um pai
Ter perdido a sanidade mental, em algum lugar na infância
Sádica e maldosa comigo.
De que adianta ser filho de deus se sou apenas um filho da puta?
Vou morrer, ter meus livros jogados no lixo
Ter que ver meus filhos sofrerem calados
Sem saber por que não falaram o que queriam para mim
Vão ler as palavras que quis esquecer nos diários do tempo
Vão chorar em vão lagrimas de sal
Por um pai que não era nada
Mas todos insistiam em chamá-lo de filho de deus

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Carta para Deus, e o mundo

Cartas de amor
Amareladas pelo tempo
Vidros de perfume abandonados
Roupas jogadas no chão da sala
Pratos de comida vazios e famintos
Copos de água com cerveja gelada
Gestos esquecidos no passado
Carinhos perdidos no cabelo
Sapatilhas jogadas no asfalto
Dançarinas saltitando felizes
Varas de pescar enfiadas na terra molhada
Banhada pelo rio misericordioso
Fomos todos abandonados por deus
E aqui permanecemos atentos
Gritando calados.
Por salvação, por esquecimento.

Funeral

Com a boca cheia de algodão
E os dedos cheirando a formol
Observo o guardião do cemitério
Fechar os portões, para encerrar o funeral
Os vivos de luto caminham de volta
Para uma vida sem sentido...
...sem sentimento
O preto do céu
O calor das velas que foram acesas
O perfume das rosas em cima de meu caixão

Sinto-me só...

Agora os moribundos que vagam por estes lados
Acordam todos os dias com um frio na espinha
De que vão me acompanhar
Deitar-se-ão ao meu lado nas sepulturas
De suas vidas medíocres

Estou aqui preso, condenado a sofrer
Sinto o veludo com a ponta dos dedos
Agora não vejo mais nada
Nem se quer sei se ainda consigo sonhar
Não consigo lembrar o sabor de seus beijos...

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Excelente companheira

A solidão é uma excelente companheira
Com cerveja e maconha
Conversa comigo sobre o universo
Argumenta sobre a loucura
Cospe alguns insultos
Acompanha-me todas as vezes que surto
Que piro, e jogo minha roupa pro alto
E quando bebemos vinho, fazemos sexo a noite inteira.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Pedras selvagens

Pedras selvagens
Montanhas se levantam
Em Gigantes deprimidos

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Céu

Olhe! O céu sem estrelas, o quão triste isso poderia ser...
Tem a lua que alivia, e seu sorriso que me traz alegria.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Eu ainda quero

Quero atravessar a America latina
De norte a sul, leste a oeste
E ver todas as belezas culturais,
Cada montanha eu quero subir
E ver o sol nascer como os deuses viram.

Quero mochilar por toda a Europa
Bater de porta em porta
Subir no trem que separa o meu tempo.
Entrar em cada igreja e sentir o cheiro da exploração

Eu ainda quero caminhar
Pelos cursos dos rios cheios de vida e esperança

Quero alcançar o cume do Everest
Escalar o Himalaia
Conversar com atlas.

Quero nadar todos os oceanos,
Admirar os peixes nos corais
Pegar onda,
Mergulhar nos naufrágios mais famosos
Sentir a areia molhada sob os pés

Eu ainda quero ir de um lado ao outro da grande muralha da china
Com meus pés e olhos
Meus únicos pertences.

Quero escrever um livro.
Depois de ter lido que me impressionou
De ter chorado a cada final
Após decorar cada verso
Quero escrever os meus.

Quero ficar sozinho, em um lugar perdido
Namorando o por do sol
Sem nenhum compromisso

domingo, 4 de janeiro de 2009

A cela

Aquele sorriso no rosto
Pintado com a maquiagem da mãe
Os olhos do pai, a orelha da mãe.
O orgulho esquecido e impedido pela morte
A arrogância estampada e colorida
O sarcasmo passado de pai para filho
O medo bem conhecido de dizer adeus
A quantidade de livros não lidos
Poemas que deixei de escrever
Xícaras de café que joguei na pia
A estranheza de amar, sempre algo novo
De ver as fases da lua, o nascer de um novo sol
De piscar contra o vento
De rir na hora errada.
Estive trancado, por muito tempo
Em uma cela de amargura,
Decorada com a lembrança
De dias não vividos, de sombras grotescas
Vivi por muito tempo, sem horizonte
Sem chão nem coração
Iludido, com a acidez do destino
Espantado com a nudez do mundo
Admirado com a ironia do mudo.