sábado, 28 de março de 2009

Palavras

Palavras produzidas,
Palavras pensadas,
Palavras ditas,
Palavras prensadas,
Palavras pintadas,
Palavras estragadas, mofadas, fedendo a óleo.
Palavras duras,
Palavras bonitas,
Palavras em um discurso
Palavras em um poema
Palavras em um romance
Palavras em uma vida
Palavras que guiam o infinito
Palavras grudadas na retina
Palavras esquecidas
Palavras lembradas
Palavras...
Palavras imundas
Palavras estranhas
Letras, linhas e parágrafos...
Textos inteiros, palavras mudas.
Sons vindos da garganta.
Palavras inesquecíveis, ditas por ti.

O nome disso é (resposta a arnaldo antunes)

O nome disso é merda,
O nome disso é sociedade,
O nome disso é dinheiro,
O Nome disso é poder,
O nome disso é família
O nome disso é cuidado
O nome disso é cerveja
O nome disso é assassinato
O nome disso é heroína
O nome disso é sociedade
O nome daquilo é desejo
O nome daquilo é oportunidade
O nome deste aqui é pensamento

E aonde eu vou colocar?

quarta-feira, 25 de março de 2009

Abandonados Guardados

Não adianta mais ser crucificado
Não adianta ficar atormentado
O seu coração não funciona desse jeito
Jesus não quer o seu respeito
Feche essa boca cheia de agonia
Engula tudo que é amargo
Raspe a barba desse rosto esburacado
Que o tempo não teve perdão.
Aquilo que foi abandonado
Deve ser guardado
Não se esqueça de onde veio
Não retorne ao principio acorrentado
Calce seus sapatos mais uma vez
Suba aquela escada tortuosa
Sangre pelos poros de suor
Cuspa essa saliva amedrontada.
Leia o livro da morte, não tente achar respostas
Pois elas ainda estão guardadas
Pois elas não foram abandonas
Nem ao menos esquecidas
Foram trancadas numa gaveta
E a chave está no seu pescoço torto
Não aceite o que é errado
Nem que tenha que saber
Jesus não te fez nada.

O buraco do espelho (arnaldo antunes)

"o buraco do espelho está fechado
agora eu tenho que ficar aqui
com um olho aberto, outro acordado
no lado de lá onde eu caí
pro lado de cá não tem acesso
mesmo que me chamem pelo nome
mesmo que admitam meu regresso
toda vez que eu vou a porta some
a janela some na parede
a palavra de água se dissolve
na palavra sede, a boca cede
antes de falar, e não se ouve
já tentei dormir a noite inteira
quatro, cinco, seis da madrugada
vou ficar ali nessa cadeira
uma orelha alerta, outra ligada
o buraco do espelho está fechado
agora eu tenho que ficar agora
fui pelo abandono abandonado
aqui dentro do lado de fora"

segunda-feira, 23 de março de 2009

Meu salvador

Seus relógios
E ovos fritos
Pedras pensantes
Cabeças errantes

Caixas que guardavam universos inteiros
Gavetas em todos os lugares
Rostos abalados pela vida
E pelo tempo derretido

Seus sonhos horripilantes
Seu sangue frio
Animais ferozes
Pequenos enxames de abelhas

A melodia de seus pinceis
A rima de suas cores
Salvou minha vida
Sem nem mesmo saber
Nem se importar
Não pintou minha lagrimas
Nem meus sapatos.

sábado, 21 de março de 2009

Mãe Serpente

Sou filho da serpente
Devoradora de cadáveres
Sorridente, cuspindo seu veneno pelo mundo.
Bebendo deste sol decadente
Sugando força do vinho
Rasteja pelos caminhos da vida
Roendo as raízes robustas
Comendo os frutos da morte
Mata sua sede com seu próprio sangue
Condena a lua e as doze velas
Invocadoras sorridentes
Encantadora de serpentes
Morde, rasga suga
O pescoço da pobre fúnebre concorrente
De tão célebre mata a fome e o desejo
Minha mãe, o monstro reluzente
Que brilha mais que fogo morto.
Devoradora de bestas astrais decadentes
Correntes do acaso
Presas em suas caudas
Estacas de prata em suas mãos
Olhos deprimentes
Transmite o medo, o caos a agonia
A mãe serpente
Derrama seu veneno pelo mundo
Transforma todo bom cristão
Em cão...

Isto é a guerra

Só o que escutamos
São lagrimas e explosões
Sentimos o cheiro de pólvora
Farejamos o gosto da morte
Beijamos defuntos já envelhecidos
De tanto medo, agarrados no chão
“Isto é a guerra”
Disse um desconhecido

sexta-feira, 13 de março de 2009

"O Louco" Gibran

"Perguntais-me como me tornei louco. Aconteceu assim:

Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas – as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas – e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente gritando: “Ladrões, ladrões, malditos ladrões!”
Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim.
E quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no telhado de uma casa gritou: “É um louco!” Olhei para cima, para vê-lo. O sol beijou pela primeira vez minha face nua.
Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais minhas máscaras. E, como num transe, gritei: “Benditos, benditos os ladrões que roubaram minhas máscaras!”
Assim me tornei louco.
E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós."

domingo, 8 de março de 2009

Dialogo longínquo

Não sei quais os fundamentos da vida, não sou capaz de entender a morte, e por enquanto vou me manter alheio a este assunto. Devo aprender a caminhar sobre minhas próprias pernas, cair de cara na areia salgada da praia dos desesperados, sedentos por conhecimento, seja ele cientifico, filosófico ou popular. Tenho apenas duas décadas de vida, já parei e voltei a fumar diversas vezes, uma tentativa patética de me libertar da sociedade. Não quero ser alguém nas margens, nem quero ser um partidário babaca. Quero ser quem eu sou, e descobri-lo a cada dia que passa. Quero achar meu tempo, perdido no pântano dos meus sonhos, quero desenterrar os tesouros esquecidos do meu passado, quero viver meu presente, futuro ate o dia do fatídico fim.

Cansei de ser apocalíptico, e pensar no fim, ele chegará e me levará... mas até lá? Há, esperarei vivendo intensamente meus ideais de loucura.

Sou apenas um garoto vivendo estranhamente neste planeta desigual, desumano, descomunal. Minhas lagrimas não conseguem mais lavar a sujeira que vejo nas ruas todos os dias.

Estou suado, e sou sem graça, sem sal nem pimenta. Não tenho gosto, nem cheiro. Sou arrogante, e bisbilhoteiro, sempre procurando as chaves da razão. O mar caótico interno corrói meu ser externo, estampa para o mundo o quão fraco estou agora.
Já não sei, nem se devo saber. Mas há algo errado com tudo isso que vivemos. Esses estilos de vida, toda essa religião e esses conceitos de vida. Tantas regras para serem quebradas, tantas desigualdades a serem mantidas.
Temos que quebrar os paradoxos desta existência mesquinha. E precisamos aprender a ser altruístas e viver em harmonia uns com os outros... Seres humanos e vermes insignificantes.

Sendo os gananciosos, parte dos vermes, e os sonhadores parte do todo.